Nossa privacidade e sossego não tem preço, enfim estou na minha casa.
Já tinha sido proprietária de um imóvel, mas nunca tinha me sentido dona, de verdade.
Nunca tinha sentido essa sensação de liberdade, de dona do nariz, de poder ficar perto da janela, de olhar para o tempo, de não pensar em nada, mas agora, mudada a posição, estou mais próximo do que nunca do que nunca senti.
Gosto de navegar e, de vez em quando, olhar a noite lá fora: silenciosa e deslumbrante, escutando não muito distante os carros que passam pela Rodovia.
Toda minha infância foi inundada pelos sons esporádicos, de carros que trazem os motores de longe, chegam e vão adiante, deixando um rastro de silêncio para trás.
Custa-me abandonar esses sons da noite.
Moro no alto do bairro, minha casa tem dois andares, mais o terraço e moro só, com dois poodles.
Escrevo do segundo andar colada à janela e o vento quente e úmido corre pelo lado esquerdo do meu rosto. E é também é por esse lado que os sons da rodovia chegam aos meus ouvidos.
Da minha janela eu crio mundos, além daqueles que eu cotidianamente vivo.
E no meu quarto tem meu cheiro, minhas ilusões ardentes, minhas coisas, minhas crenças, meu mundo em geral, motivos de minha inspiração...
que não cessa, que não para..
até que se finde o fim.
 (5Out2008)